sexta-feira, 20 de novembro de 2009

JANELAS DA HUMANIZAÇÃO

O homem age sobre a natureza e sobre os outros homens desde o princípio dos tempos. Seguindo Steve Johnson, em sua obra CULTURA DA INTERFACE – COMO O COMPUTADOR TRANSFORMA NOSSA MANEIRA DE CRIAR E COMUNICAR (original em 1997 e traduzido pela Jorge Zahar em 2001), comparo o computador à arquitetura. Das cavernas, protetoras das intempéries e de animais devoradores, o ser humano foi moldando seu espaço ao longo dos milênios conforme sua cultura e estágio de conhecimento sobre as coisas.
A palavra espaço pode ser entendida como espaço da corporeidade física e espaço da corporeidade psíquica. Para atender as necessidades da primeira corporeidade, as edificações modificaram-se – na aglomeração da urbe atual, o homem mora “empilhado” em edifícios, por exemplo. Para atender as necessidades da segunda corporeidade, também passou da pedra, para a tábua de madeira/barro, para o pergaminho/papiro, para chegar à folha de papel manuscrito, à folha impressa e à tela virtual.
Esses dois espaços tentam se harmonizar sempre: o conhecimento cada vez maior precisa ser condensado em local cada vez menor para coabitar com o ser humano. De 1946 para cá, com a invenção do primeiro computador com trinta toneladas para o laptop/whi-fi, grande parte do saber acumulado até o momento pode ser totalmente acessado por cada ser humano em um curto espaço de uma pequeníssima mesa de escritório. A tela configura-se como um escritório de altíssimo nível, visto que em seu desktop podem ser dispostos/ “engavetados” todos os arquivos (mortos ou não, inclusive lixeiras) que se julguem necessários pelo tempo que se queira.
Por sua vez, o modo de contactar estes arquivos ficou cada vez mais rápido e sem segredos – das ordens de comandos do DOS, de 1980, complicadíssimos percursos a serem delineados para a interface computacional seguir –, passou-se ao mouse e, ao whi-fi, com os próprios dedos. Além disso, é possível ter tudo organizado – de livros a álbuns de fotos (de familiares ao mundo todo), correspondências, endereços (e não só eles, com um click consigue-se conversar, ver e ouvir o remetente!), contas e pastas arquivadas e dispostas da forma que se queira, em um palmo de espaço, como se pode ver abaixo. Aplicando a usual metáfora médica, há até vacinas para cuidar de algum arquivo virulento e pode-se prazerosamente praticar alguma atividade lúdica ou se exercitar fisicamente! Mens sana em corpore sanus!
Aos poucos, este escritório está se tornando uma verdadeira casa e até um clube de amigo e círculo de trabalho! Podem-se hospedar “pessoas” e ser hospedado, assim como ampliar o círculo de amigos e ou colegas de trabalho, seja nas salas de bate-papo ou em outros pontos de encontro!
Quanto mais organizados somos e quanto melhor capacidade de denominação e de categorização, mais rapidamente encontramos nossos “guardados” nos arquivos das “janelas” de nosso escritório/casa! Pasmem: pode-se também, quase sem perigo algum, guardar a máquina fotográfica no desktop, como se vê acima!
As janelas estão dispostas em uma forma hierárquica tal que é fácil perceber a relação contém e contido. Até nisso a arquitetura da corporeidade psíquica adapta-se à cultura pós-moderna, pois cada tema pode ser categorizado e visto por diferentes facetas, ora justapostas ora hierarquizadas, o que pode ser também (re)visto por alguns como desorganização e fragmentação de noções acerca do mundo.
A metáfora do uso de Windows já se tornou uma catacrese, ou seja, uma metáfora morta, e a compreensão do sentido literal torna-se até motivo de piada, como podemos ler abaixo:
CORTINAS
Uma loira entra numa loja de cortinas e diz para o empregado:
- Por favor, eu queria umas cortinas para o monitor do meu computador!
O empregado, espantado, diz:
- Mas, minha senhora, os monitores não necessitam de cortinas.
Diz a loira, com ar de espertalhona:
- Helloooooooooooooooo?!?!?!?! Eu tenho o indooooooooooooooows!!!!!!! (em inglês, quer dizer janela )

Caindo no corriqueiro, logo surgirão outras ferramentas que certamente serão úteis na resolução de novos problemas. O homem está sempre “arranjando a casa”, assim como na biologia os seres caracterizam-se pela exaptação. É o caso das lentes que fazem parte dos programas mais atuais, da janela “documentos recentes”, da distribuição do texto em colunas e posicionamento de objeto no texto, apenas para citar ferramentas do Word.
Além de estar “residindo” cada um em sua casa, participa-se de uma “cidade global” em que os crimes virtuais podem ocorrer como na realidade não virtual; como por exemplo, a reprodução da propriedade intelectual alheia e a difamação.
Esse rearranjo constante físico-espiritual tem ocasionado novos tipos de relações sociais, afetivas, profissionais, educacionais e modos de viver, entre tantas outras alterações culturais. Apenas o distanciamento no tempo poderá analisar com estranheza o período pré e pós-computador.

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